segunda-feira, 7 de novembro de 2011

manhã ensolarada

Belas lojas, muita gente
Nasce mais um dia na gringolândia
Um dia como qualquer outro
A competição capitalista;
E acima de tudo
O poder

Com poucos segundos
A cidade se transforma
Belas artes vão ao chão
Os homens não são mais os mesmos

Gritos, choros, pânico e dor
Correria total
De repente
O império percebe que não é perfeito

Segurancas?
Policia?
Bombeiros?
Todos inválidos
A grande América
Foi desta vez
A caça

A cena era aterrorizante
Desespero e suicídios
Jurei que era mais um teaser
De um filme de ação

Infelizmente me enganei
Era a pura realidade
Sem final feliz
De um inesquecível
11 de setembro



segunda-feira, 4 de julho de 2011

um pouco mais de calma


é tanta violencia que atirei
são tantos os assaltos que roubei
e quantos que choraram
eu nem sei

quis mudar o mundo
não consegui
conformei com a vida
acabei morrendo

sábado, 18 de junho de 2011

+++ LUZ +++


Ontem a luz acabou na cidade inteira. Atordoada, cheia de coisas pra fazer, fui brutalmente interrompida com o silencio da escuridão. Foi aí que percebi como a energia, tão importante em nossas vidas, pode ser tão instável. Uma hora você está fazendo muitos planos, respondendo vários emails, secando o cabelo ou assistindo TV e outra hora não tem simplesmente nada para fazer, muito menos tomar aquele banho quente de inverno. Volta-se a pré-história, ou melhor, a antiga sala de estar. A família se reúne e é obrigada a fazer algo que há muito tempo não fazia: dialogar. Pense na última conversa longa que você teve com algum amigo ou parente próximo. Estou falando de uma conversa presencial e não do bate-papo do facebook. Pois é. A minha foi neste último apagão. À luz de velas, na sala de estar, enquanto minha irmã tentava completar um caça-palavras, a mais nova tentava encontrar alguma diversão no celular. Mesmo conversando, na verdade, o pensamento de todas estava focado no atraso de vida que era ficar ali, uma olhando pra cara da outra, enquanto podiam estar exercendo mil e uma funções. Era noite de eclipse lunar, mas que teria passado despercebido se não estivéssemos ali naquela situação. E que situação. Após quase duas horas a luz voltou. Deu para ouvir os gritos dos vizinhos, como se fosse a comemoração de um gol do Brasil. “Até que enfim!” Exaltou o moleque. Mas será que a luz realmente havia voltado? Sei lá, às vezes penso que vivemos mesmo é na escuridão. 

terça-feira, 29 de março de 2011

velha Infância

Era o trio das meninas irmãs. Aquela história de uma não largar a outra. A mãe trabalhava fora e aí o mundo era só delas. A casa era simples, mas não menos confortável e recebia muito bem a família. Na frente da casa, um enorme quintal onde a bola corria solta, o carro ficava estacionado e os primos se encontravam. A gangorra não se sentia vazia. Quem quisesse se entregar as magias do quintal dava uns passos mais à frente da casa, aos mais quietos e receosos, bastava sentar-se na varanda e espiar sua terra marrom e molhada.

O almoço se dava exatamente com o término da aula. Os passos indicavam a fome e quase sempre as irmãs voltavam apressadas da escola. Na esquina perto de casa o cheiro do tutu era inegável e logo causava a indagação: hoje é suco ou sobremesa?

Todos se punham a mesa. O pai, com o uniforme azul da fábrica, a mãe, ansiosa e preocupada em sua dupla função, e as meninas sempre combinando, seja na fome, na roupa ou nas birras. E todos comiam o verde, o preto, o branco e “ai ai ai” o pai dizia se sobrasse algo no prato.


Costumava dizer que quando crescesse iria fazer o que queria. Realmente não sabia o que dizia. Foi na infância, naquela casa e com o trio o tempo onde eu era o que queria e reinventava o que se era, na lúdica maravilha que é ser criança.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ano REALMENTE novo

Acabou carnaval. Agora sim irei cumprir todas as promessas de Ano Novo. Mas o que eram mesmo? Ficar mais magra, mais rica, mais jovem e bonita? Namorar, casar, ter filhos? Arrumar um emprego, trocar de emprego, subir na vida?

Em meio a tanta coisa que temos que fazer todos os anos, o que mais devo querer? Ou a pergunta deveria ser o que mais posso querer?  Porque ser bonita, jovem, ter um bom emprego, namorar e ter filhos, tudo isso ao mesmo tempo, só mesmo sendo uma mulher com super poderes. Ou então só se você for a Gisele Bündchen.

Brincadeiras a parte, depois do carnaval, porque no Brasil as coisas acontecem mesmo só depois desta data, reveja seus planos. Não há um modelo de vida, um padrão a ser seguido. O que serve para mim pode não ser o mesmo para você.

A sensação moving on que nos contamina todo início de ano pode estar onde menos imaginamos como doar roupas e coisas que não usamos mais, reatar uma amizade antiga ou perdoar alguém de verdade.

Quem aqui já comprou aquele carro que há tempos sonhava em ter ou fez uma cirurgia com objetivos meramente estéticos sabe do que estou falando. Corre-se ansiosamente atrás de algo que nos faça mais feliz e quando conquista-se “este algo”, o momento feliz é tão pequeno que pensamos: será que é isso, a felicidade? Já quando doamos algo a alguém, por exemplo, nem que seja o nosso tempo, nos sentimos tão leves e naturais que não temos a necessidade de preencher o vazio, de buscar a felicidade, pois ela já está ali dentro da gente, não foi adquirida à vista ou em 12 pagamentos.                      



A busca pela felicidade cansa. A busca pelo corpo perfeito cansa. A busca pela vida que eu quero um dia também cansa. Portanto, tente cumprir coisas que sinta ser leal a você. Realize o que você ache ser do bem. Resolva problemas que tenham importância para outras pessoas também e faça deste ano um ano REALMENTE novo.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Proteja o meu BAIÃO

O que cansou o homem? A dor ou a fome? José. Os olhos tristes e na boca um sorriso. Mas um sorriso tão pálido que perdeu o sabor. É assim minha gente a cara de quem não entende o que aqui faz e para quê vive. José é igual. Obedece a rotina. Não lutou contra a ditadura, nem fez protestos na rua. Às vezes José queria ser diferente, mas é pobre, simples, comum como tanta gente. José é brasileiro. E para ele basta.

Na lavoura onde crescera, seu olhar era bom dia e bom mesmo era beber água gelada na casa de Donana. De tanto sol nas costas, se acostumou a levar calor pra casa. E de vermelho o sol, vermelha a terra, vermelha também ficou a pele.

Sonhava com filhos. Quem sabe um macho, ajudante na colheita. Casou-se então com moça nova, mas bem ajeitada. Nem festa, nem doce. Somente os prazeres adentrando a noite quente e silenciosa do sertão. Sem televisão, fez um time de futebol. Todos José, todos iguais, todos com um sorriso pálido que perdeu até o sabor.


O que cansou o homem? O medo ou a fome? Religiosamente a fé era santa. Não acreditar era não ter médicos, pois somente o que se tinha a fazer era rezar. Mesmo assim, enterrou dois pequeninos filhos, vítimas da fome e do descaso. Mudar de vida, só mesmo um dia alguém que se ouviu falar, viajou pra nunca mais voltar. E como realmente não voltava, nunca se sabia o que havia do lado de lá para aí sim mudar.


Dia de festa mesmo era dia de eleição. Como era bão ter água, comida e sabão. Nem que seja por alguns dias, para dizer que se lembravam do povo. E nessa de vai ou não vai ter água boa no sertão, bom mesmo era beber água gelada na casa de Donana, mulher do candidato, dona do bem mais valioso por ali: a geladeira.  

Parece não existir mais. Mas é a realidade ainda de parte do nosso sertão verde amarelo. Gente que sente medo, dor e fome. Gente que é abusado, que não conhece saúde, saneamento básico. Gente que só faz rezar porque não sabe mais o que fazer. Não digo que essas pessoas não têm futuro, mas parece que elas não têm escolha.
  

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o LaDo B!

Acabou a escola e ai? Passou no vestibular? Formou e agora trabalha aonde? Casou e vai ter filhos? Carregamos essa horrorosa mania de perguntar sobre a vida dos outros como se tudo tivesse que ter uma seqüência óbvia. E, na verdade, não tem. Será que não podemos estar em uma fase onde não vamos para lugar nenhum, não planejamos nada, só queremos deixar rolar? Viver de sonhos pode não ser a realidade, mas viver seriamente a realidade pode não ser também o ideal.

Porque devo prestar vestibular se o que eu quero agora é ser músico? Porque tenho que trabalhar depois que me formei se o que eu quero é viajar pelo mundo? Porque ter filhos depois de casado? Devemos viver para trabalhar ou trabalhar para viver?

Não estou dizendo que devemos fazer o que queremos sempre (e isso não é possível) e nem sou a favor de crianças e adolescentes fora da escola. Mas onde foi parar o tempo em que podíamos ter sonhos? E imaginar mais do que se preocupar?

A sensação é que se não tivermos um plano estaremos sempre perdendo a oportunidade. E que oportunidade é essa que eu nem conheço, mas que já faz parte das minhas perdas? A nova geração vem se preparando para o pior e por isso está cada vez mais gabaritada para enfrentar a realidade. Meu receio é que elas não estejam se preparando para o principal, a vida.


Como aprender a ser mais humano, como ser honesto quando não há ninguém vigiando, como se importar com o outro mesmo sem conhecê-lo? Isso não há escola ou curso de pós-graduação que ensine. Isso não está no Google. Talvez pais, educadores, jornalistas, personalidades, enfim, todos aqueles capazes de influenciar nossos jovens talentos pudessem apresentá-los ao lado B do disco. Aquele que ninguém escuta, mas que é o melhor e guarda raridades que passam despercebidas. Vai aí algumas:

Ninguém é rico o bastante para ser feliz na mesma proporção. Os estudos só servem se soubermos aproveitá-los na vida cotidiana. Não adianta ter idéias se não as colocarmos em prática. Viajar, ver filmes, ir ao teatro podem às vezes ser mais úteis do que a física. Os mais velhos têm ainda muito a ensinar (mais que o Google!). Simpatia, humildade e respeito nunca saem de moda e valem mais do que uma pós. Não se sinta um lixo quando não souber o que fazer da vida. Só não decida o que fazer baseando-se somente no dinheiro. Isso só te trará ansiedade e desgosto.